© DRAMATURA 2

© DRAMATURA 2
Quatro jovens, a descoberta do amor e muito humor para apimentar a história...

quinta-feira, 22 de maio de 2014

PRIMEIRO

QUEM AMA O FEIO, BONITO LHE PARECE

C
andinha e Joana estão sentadas no banco da praça, onde acontece uma animada quermesse[1]. Candinha é uma jovem de 20 anos, é magra, alta e tem cabelos longos, lisos e loiros. Joana, baixinha, também tem 20 anos. É magra e exibe cabelos longos, negros e bastante ondulados. Zé Migué é baixinho, nem gordo, nem magro, tem cabelos encaracolados e pretos. Zé Capité é bem alto, magrelo, feito um bambu, tem cabelos pretos e lisos. Ambos estão com 21 anos e acham que chegou o momento de se apaixonarem. As garotas observam atentamente dois rapazes que estão de pé a certa distância, ora olhando para elas, ora se disfarçando.
            CANDINHA    _ Joana do céu! Não falei que era muito bom esse lugar. Que tem homem bonito pra chuchu.
                     JOANA    _ Falou sim, Candinha. E eu que não tava acreditando.  Mas aqueles dois rapazes que estão olhando pra gente são feios que dói! Será que a gente desencalha?
            CANDINHA    _ Tá me chamando de baleia pra ficar encalhada, minha filha?
                     JOANA    _ Eu não quis dizer isso, mas aqueles dois rapagões estão dando uma de...

               ZÉ CAPITÉ   _ Tubarões! É isso que nós somos.
               ZÉ MIGUÉ    _ É. Por isso precisamos conquistar aquelas sereias que estão olhando para nós.
            ZÉ CAPITÉ      _ Ah, então você reparou, é? São bonitas pra burro, né, Zé Migué?
            ZÉ MIGUÉ       _ Pra burro? Então são todas pra você. Eu sou um homem...

            CANDINHA    _ Monstruoso? Foi isso que você disse, Joana?
                     JOANA    _ Não. Eu disse: horrorosos e desengonçados.
            CANDINHA    _ Joana! Você sentiu o cheiro que eu senti agora?
                     JOANA    _ Ai, não olhe pro meu pé, que eu uso um talco muito bom.
            CANDINHA    _ Não é isso! Tô falando de um cheiro horrível de peixe.
Candinha olha Joana de cima para baixo, fazendo gesto de quem está cheirando.
                     JOANA    _ Que você tá olhando, usei desodorante hoje, tá? O cheiro veio de lá. E os rapazes estão vindo em nossa direção.
            CANDINHA    _ E eles estão uma fazendo cara de...

               ZÉ CAPITÉ   _ Chimpanzé! É isso, você tá com uma cara muito engraçada.
               ZÉ MIGUÉ    _ Você fala isso, porque não tem um charme igual ao meu. Vou mostrar pra você quem é o papai aqui.
               ZÉ CAPITÉ   _ Então para de fazer caretas, senão vai assustar as garotas.
               ZÉ MIGUÉ    _ Ô! Esta é a minha cara mesmo! Você que tá com um jeito estranho de...

                     JOANA    _ Brontossauro! É sim. O que vejo na minha frente são coisas medonhas.
            CANDINHA    _ Será que eles estão querendo nos conquistar? Já tô ficando com vergonha.
                     JOANA    _ Relaxa, Candinha! Vamos ver o que acontece.
Zé Migué se aproxima das garotas. Faz uma reverência para mostrar seu cavalheirismo.
               ZÉ MIGUÉ    _ E aí princesas, estão à procura de um príncipe?
                     JOANA    _ Estamos sim. Você viu algum?
Candinha ri às gargalhadas. Zé Migué volta ao lugar e é recebido com vaias. É a vez de Zé Capité tentar a conquista. Ajeita o colarinho, encara as garotas e caminha em direção a elas.
            CANDINHA    _ (Bate o cotovelo em Joana) Deixa o outro comigo, amiga.
               ZÉ CAPITÉ   _ (Para as garotas) As belezuras querem a companhia de um homem bonito e charmoso?
            CANDINHA    _ É claro! Se aparecer algum, nos avise, por favor!
Candinha rola de tanto rir, enquanto Zé Capité volta para perto de Zé Migué e é recebido com gozações. Os rapazes ficam irritados com as tiradas das garotas e decidem ir embora da quermesse. De um lado, de pé e impaciente, desdenham as garotas, porém com uma ponta de esperança de serem aceitos por elas.
                ZÉ MIGUÉ   _ (Irritado) Vamos nessa, Zé Capité! Pensando bem, elas estão um pouco acima do peso.
               ZÉ CAPITÉ   _ Você tem razão, Zé Migué. Essas baleias não fazem meu tipo. Gosto mesmo é de uma...

             CANDINHA    _ (Nervosa) Sardinha esquelética! Tô me sentindo uma caveira.
                     JOANA    _ (Olhando para o relógio) Não liga, boba. Agora, fique esperta que já é meia-noite!
            CANDINHA    _ Já sei. Hora de ir embora! A quermesse acabou e nós ficamos...
               ZÉ CAPITÉ   _ Encalhadas! Elas vão ficar solteironas e ninguém vai querer mais.
               ZÉ MIGUÉ    _ Acho melhor voltar para o riacho pra ver se pegamos alguns...

                     JOANA    _ (Com lamento) Quilinhos a mais! Acho que os homens pensam que estamos gordas.
            CANDINHA    _ Mas eu me sinto magra. Você é que pode virar uma Orca, se não se cuidar.
                     JOANA    _ Ah, que raiva! Você também está contra mim? Tudo culpa daqueles...

               ZÉ MIGUÉ    _ (Com irritação) Bocós! Elas nos fizeram de trouxas. Isso me deixou irritado. Grrr...
               ZÉ CAPITÉ   _ Vamos pescar, amigo. Assim acaba o nervosismo. Além do mais faz uma semana que...

            CANDINHA _ Estamos na pindaíba, amiga. Mas não se estresse! A noite ainda é uma criança.
                     JOANA    _ Uma criança assustada isso sim, porque eu...

               ZÉ CAPITÉ   _ Já tô me borrando de medo de ficar aqui neste lugar sinistro.
               ZÉ MIGUÉ    _ É melhor a gente não contar nada pra ninguém ou vamos virar...

            CANDINHA    _ Motivo de piadas! É isso o que somos.
                     JOANA    _ Piadas são aqueles rapazes ridículos. Mas sabe que de repente comecei a sentir...

               ZÉ MIGUÉ    _ Uma coisa estranha aqui no peito. Sinto falta do tempo que eu era bonitão.
               ZÉ CAPITÉ   _ Que comédia! Como pode ter sido bonito um sujeito que é mais assustador que um...

            CANDINHA    _ Lobisomem! Ai, amiga, vamos embora daqui que ainda por cima é noite de lua cheia.
                     JOANA    _ Não tenha medo! Aqueles rapazes vão nos proteger. Acho que tô ficando apaixonada por aquele magrelo com cara de...

               ZÉ MIGUÉ    _ Cachorro Sarnento! Minha mãe sempre me xingava assim, quando eu ficava na rua até meia noite.
               ZÉ CAPITÉ   _ Cachorro sarnento é elogio. Sorte sua que não era chamado de...
        
            CANDINHA    _ Tribufu! É isso que eles são, mas pensando bem, dá pra encarar.
                     JOANA    _ Nem é tanto sacrifício assim ficar com eles. É só fechar os olhos e tapar o nariz que a gente acaba se acostumando.
Candinha e Joana, arrependidas com as respostas irônicas que deram aos rapazes, não tiram os olhos deles. Resolvem dar a Zé Capité e a Zé Migué uma chance, mas como não são nada bobas, sabiam que o benefício seria para si mesmas. Os rapazes passam de volta e, simulando uma despedida, dão um tchauzinho.
                     JOANA    _ (Puxa Zé Migué pela camisa) Ei. Você é besta? Não vá embora não! Você jogou sua isca e fisgou meu coração.
               ZÉ MIGUÉ    _ Ah. A gente tava pensando mesmo era em comer uma peixada. Tá a fim?
            CANDINHA    _ Ué, então não querem se casar com a gente?
               ZÉ CAPITÉ   _ Pode até ser, mas vocês nos respondem uma pergunta?
                     JOANA    _ Claro, claro! Pergunte que a minha resposta é sim!
               ZÉ MIGUÉ    _ Vocês sabem limpar peixe?
Os rapazes continuam a caminhada, enquanto as moças param espantadas com a conversa dos dois.
                     JOANA    _ São uns palermas mesmo, amiga. Se peixe vive na água, já não sai limpo?
               CANDINHA _ Eles são tapadinhos, mas é melhor que nada. Vamos!
As moças saem correndo desengonçadas, para alcançar Zé Migué e Zé Capité que já se distanciam muito.

***




[1] Festinha de fim de semana, que acontece em praças ou pátios de igreja, geralmente em homenagem ao santo padroeiro de uma paróquia, com finalidade de arrecadar dinheiro para as obras sociais e despesas da própria igreja.




Nenhum comentário:

Postar um comentário